terça-feira, 19 de junho de 2007

O comercial de celular e a comunicação na pós-modernidade


O comercial de celular e a comunicação na pós-modernidade (ou dos ring-tones no busão)



(Guilherme Jeronymo)


Cinco da tarde, dia quente, sentido centro bairro, rumo à Zona Sul da maior cidade do país. Mormaço, eu cansado, de pé. Para o horário não está muito lotado, o único erro é o fluxo de consciência - isso aconteceu a, bem, uns quatro meses atrás, mas a falta de um lap top já faz deste relato algo fora de seu tempo, como uma conversa por e-mail, e portanto é melhor ser honesto desde o começo.

Percebo o casal no meio de uma música. Olho. Jeito de perifa. Não me leve a mal, mas naquele ônibus, naquela hora, com aquele ar de cansados, de dia cheio, não tinha como não dizer que não moravam perto de mim. Não reconheci a música, nunca fui bom disso. O gene musical deve pular uma geração, ou ser recessivo. Ou então eu simplesmente não fui capaz de me esforçar para fazer aflorar o talento. Mas, daí a não perceber que era uma música, são outros 500.

Eu ouço a música, e vejo ele com o celular. Os dois juntinhos. E paro.

São oito da noite. Minha esposa e eu jantamos, sentados na cama, conversando e vendo novela. Começa o intervalo. Carros, bebida e celulares. No comercial de celulares me dou conta do que é o canal nestes brinquedinhos atualmente: acesso à Internet, jogos on-line, torpedos, planos de consumo, música e a capacidade de tirar fotos e gravar pequenos filmes. Hoje não é mais necessário estar em um lugar para receber – ou gerar – mídias.

O cara com o celular tinha bem uns oito anos a mais do que eu. Uma geração. Meu irmão tem cinco a menos, como os bixos da minha faculdade. Usam ferramentas de comunicação que a minha geração ainda não domina, ao menos não para o seu cotidiano. Há os que relatam que crianças de oito, nove anos, usam messenger, skipe e ferramentas semelhantes. Todas juntas. As gerações estão cada vez mais próximas, e com práticas e valores mais relacionados. O avanço tecnológico destruiu o que ele mesmo criou.

Há coisa de 200 anos atrás, o mundo começou a mudar. Há coisa de dois anos atrás, um computador capaz de usar banda-larga custava duas ou três vezes o que custa hoje.

Independente de bom ou ruim, ou até mesmo apesar de bom e ruim, o atual momento tecnológico extingue o abismo entre gerações. Eu uso o messenger como ferramenta de trabalho. Empresas já usam o skipe como alternativa para economizar em ligações. O xerox do meu bairro usa software livre. No raio de um quilômetro da minha casa há, que eu conheça, três lan-houses e dois pontos de acesso gratuito à Internet. Com banda larga. Nestes ambientes, a cada dia, o fluxo de informações acaba com uma série de verdades e preconceitos. Derruba fronteiras. E tudo isso era impensável há dez anos atrás.

Resta saber, ou assistir, como estas gerações sem geração, filhos da revolução digital, vão se portar. Como irão interagir com as dinâmicas econômicas e sociais que estão surgindo, e que determinam cada vez mais um ritmo efêmero à vida. É preciso atentar para como estas gerações formarão sua Ética, sua Política e suas crenças num mundo cada vez mais conturbado, mais radicalizado. Nesse mundo, precisamos ainda entender o que será feito das comunicações e dos espaços de informação. Das instituições e das cartilhas. Das relações de trabalho e pessoais.

Dica de site: Dê um google em overmundo. Torne-se mídia e espectador. Debata com, sei lá, Hermano Viana (aliás, trabalho interessante o dele e dos seus na GV do Rio, vale conferir).

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