Em debate na TEIA 2007, palestrantes fizeram uma análise crítica das atuais escolhas na área da Educação, ao participarem do seminário “Cultura e Educação no enfrentamento das desigualdades”.
Elisangela Cardoso* – Especial para o 100canais
Que Cultura e qual desigualdade? Essa questão deu a linha do debate “Cultura e Educação no enfrentamento das desigualdades”, realizado sábado (10), no Teatro Francisco Nunes, na TEIA 2007. Participaram Marta Porto, pesquisadora da X Brasil, que se classifica como a primeira agência de qualidade pública do país, e a professora Maria Helena, da Faculdade de Educação da UFMG e participante de Pontão de Cultura na própria universidade. A mediação do debate foi feita pelo jornalista Adauto Novaes, que abriu a mesa com a seguinte fala: “o Ocidente não vive uma crise, mas uma grande mutação, transformação, patrocinada pela mundialização em tecno-ciência. A nossa mutação fica no vazio do pensamento, impasse que estamos vivendo hoje”. Com essa crítica, chamou atenção para a contradição em se falar de Cultura e sua relação com a tecno-ciência, enquanto as ciências humanas não estão pensando as mutações culturais.Marta Porto levantou a questão do ponto de vista político, ao buscar o que é o gerador das desigualdades sociais. Nos espaços de discussão, disse, muito se fala de financiamento e gestão, mas pouco se utiliza a Cultura para discutir o cidadão na sociedade. Pensar a Cultura a partir da política, porém, requer repensar paradigmas e estereótipos. A pensadora questiona ainda se é possível pensar a sociedade sem pensar a cultura para transgredir, e se é possível a sustentação, na dimensão cultural, da transversalidade que conduz a liberdade.“O desenvolvimento”, disse Marta, “só é desenvolvimento quando conduz à liberdade” e permite “estabelecer outros tipos de direitos”. Neste sentido, Cultura é essa possibilidade que a sociedade desenvolve sobre o indivíduo. Não que a dimensão da Cultura seja a de fazer ajustes sociais, mas é a de dimensionar a qualidade e a experimentação. O papel da Cultura não deve ser, portanto, algo como reduzir a violência. Isso pode ser conseqüência, mas não paradigma. Ao pensar a Cultura sem levar isto em consideração, cai-se no jogo de estereótipos, não justificando o projeto cultural para a libertação do cidadão, e sim para a contrapartida social para os editais de financiamento.Maria Helena, por sua vez, trouxe em sua fala algumas questões teóricas sobre Educação e Cultura, partindo da tese de que muito se confundem os sentidos desses conceitos, inclusive na organização de políticas públicas. Em relação à Educação, a professora afirmou que é um espaço em que o posto é que uns sabem e outros não, há os iluminados e os sem luz, e o mercado fixa o valor do que é sabido. Neste contexto, é comum se contrapor Cultura Popular e Cultura Erudita, que permeiam os vieses formadores do campo da Educação: a formação formal e a informal, componentes que interligam os sentidos da Cultura e Educação como recurso para a promoção de desenvolvimento econômico e social.Nos tempos da sociedade da informação, disse a acadêmica, o que importa analisar são as redes sociais e suas implicações nessas novas formas de relação, na qual a Educação é o espaço de luta antagonista da Cultura. Neste contexto, entra a Globalização como imposição para a Cultura da diversidade e como sentimento potencial para se exercer a liberdade e a responsabilidade, para as quais é necessário o olhar multifacetado, capaz de romper com as desigualdades sociais.Debruçando-se ainda sobre o conceito de Diversidade Cultural, Maria Helena afirmou, fazendo eco à conferência do professor alemão Bernd Fichtner (www.teia2007.com.br/noticias/6669610), que a concepção de Diversidade Cultural antes era a de heterogeneidade, e hoje se considera a possibilidade a construção de identidades únicas e coletivas, posto que a noção de diferenciação entre espaço e tempo não é mais aplicável, e por isso temos de repensar nossas diferenças culturais. Neste sentido, várias proposições de relação vêm sendo feitas para manter essa comunicação intercultural, e é necessário democratizar um fluxo contínuo de Cultura, enfatizado no coletivo e como um lugar de inovação para as naturezas coletivas nos projetos culturais, política e cidadania.Após as intervenções da platéia, Maria Helena discutiu com os presentes a questão da educação pública, baseada no modelo educacional americano, voltado para o trabalho, como algo que não resolve os problemas enfrentados hoje na Educação. Assim, considera que a proposta da escola integral é uma armadilha em que o país está caindo, pois o que é “chato” está num turno e a proposta de cultura no contra-turno, muitas vezes em oficinas realizadas por pessoas não capacitadas. Hoje, disse a acadêmica, Educação não é entendida como um direito, mas como mérito, e esse é um grande erro. Encerrando sua fala, chamou atenção para o fato de que a responsabilidade das Políticas Públicas também é dos Pontos de Cultura, e para que propostas boas não fiquem nas planilhas e projetos, precisamos, como Ponto, saber o que queremos.*Colaborou Guilherme Jeronymo
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
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