Seminário Saberes Vivos destrincha vínculo entre Cultura e Educação
Debate sobre o tema contou com a participação de Ana Maria Gomes, da UFMG, Maria Benites, da Universidade de Siegen (Alemanha), Alcione Araújo, dramaturgo e filósofo, e da mediadora Marcela Bertelli.
Elisangela Cardoso* – Especial para o 100canais
A relação entre Cultura e Educação foi o tema da mesa “Conceitos, tendências e olhares contemporâneos sobre cultura e educação”, no Seminário Saberes Vivos da TEIA 2007. O debate contou com a participação de Ana Maria Gomes, professora da UFMG, Maria Benites, professora da área de Educação na Universidade de Siegen (Alemanha), de Alcione Araújo, dramaturgo e filósofo, e da mediadora Marcela Bertelli.Abrindo as falas, Ana Gomes fez uma breve apresentação, intitulada “Cultura, prática social e aprendizagem”, onde abordou o Conhecimento uma das formas de mediar a Cultura, e esta como um Conhecimento a ser revisado. A professora chamou atenção para as diferentes concepções de cultura que já existiram: aquela da Cultura como conhecimento e formação (ilustração); a de Cultura como “traços culturais”; a da Cultura como conjunto de normas e modelos de comportamento ou padrões de comportamento culturais, tolhendo os esforços de criatividade, liberdade, esforço e inovação, utilizada pelos críticos marxistas; e a concepção de que a Cultura atua como sistema simbólico, colocando como centrais a produção e circulação de significados como constitutiva da vida social e admitindo “a ação humana como uma ação que significa” e a linguagem como cultura.Ana chamou atenção ainda para as duas dimensões a serem explorados quanto ao tema da Cultura e da Educação: a aprendizagem como prática social culturalmente situada; e a cultura como habilidade. Contando ainda sobre uma breve discussão que teve com uma professora inglesa, diz-se surpresa pelo questionamento da colega: “Ela me perguntou por que não cuidamos de nossa cultura pondo-a em museus. Eu pensei: isso não pode ser feito, nossa cultura não cabe nos museus”. Respondendo a um questionamento da platéia, Ana fez ainda duras críticas à privatização da educação e ao desmonte da educação pública, posto que é hoje um dos poucos espaços em que se faz pesquisa no país. A pensadora Maria Benites, por sua vez, centrou sua apresentação na questão educacional, a partir do questionamento de se a Cultura será o novo espaço de formação. Falou ainda da inseparabilidade entre Educação e Cultura, hoje no Brasil quase que ignorada no tocante às políticas públicas, e comentou a fragmentação da Educação, com uma estrutura que não faz jus ao contexto atual e às necessidades da sociedade, necessárias para garantir a diversidade e liberdade. Entendeu ainda que tanto a Cultura quanto a Educação estão com problemas, e hoje o panorama de sua interação é no mínimo contraditório.Alcione Araújo iniciou sua fala com um olhar sobre a formação de nossa Cultura e o consumo cultural do brasileiro, chamando atenção para o fato de que pouquíssimos brasileiros participam da vida cultural do país, em parte por causa do analfabetismo funcional. Colocou ainda que entende como inimaginável a separação entre Educação e a Cultura, e responsabilizou por isso, em grande parte, a mudança da ênfase humanística para a tecnológica nos currículos escolares brasileiros, retirando deles, em especial na formação superior nas ciências biológicas e exatas, as “disciplinas do sentir e do pensar”. Não por acaso, disse, a indústria de entretenimento ganhou força no país no momento desta mudança, tornando irrelevantes as conquistas e o ritmo de avanço que vinham ocorrendo com o Cinema Novo, com o Teatro Moderno e com a Bossa Nova, embora sem afetar a Cultura do povo, que em grande parte continua, fora dos centros urbanos, como a cultura popular e tradicional, ao passo que o aniquilamento da vida social resultante do trabalho impede a fruição da vida cultural e afetiva, perdida nas horas de trabalho, transporte e sobrevivência. Encerrando o debate, algumas falas da platéia apresentaram experiências de educação não formal, comentadas pelos palestrantes como formas de interação entre Cultura e Educação, numa espécie de prévia da entrega, poucas horas depois, do Prêmio Escola Viva. *Colaborou Guilherme Jeronymo
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
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