Pedagogo alemão apresenta a Educação que respeita a diversidade
Especialista na pedagogia do educador Vygotsky, Bernd Fichtner proferiu a conferência “Antinomias da Diversidade Cultural: Problemas e Perspectivas”, na TEIA 2007.
Elisangela Oliveira* - Especial para o 100canais
Elisangela Oliveira
O professor alemão Bernd Fichtner disse que vê no Brasil experiências disseminadas de diversidade cultural que podem ser úteis ao modelo educacional da Europa. Especialista na pedagogia do educador Vygotsky, Fichtner proferiu na manhã de sábado (10), na TEIA 2007, a conferência “Antinomias da Diversidade Cultural: Problemas e Perspectivas”. Professor da Universidade de Siegen, ele é integrante da organização do Fórum Social Mundial e representante do Fórum Mundial de Educação na Alemanha.Bernd Fichtner centrou sua fala em questões que classificou de "práxis cultural". O acadêmico iniciou a preleção apontando que a Europa e a Alemanha, em especial, "precisavam urgentemente" conhecer as experiências brasileiras nas suas diversidades culturais, no campo da educação. "Cada ser humano é, em certos aspectos, como todos os outros seres humanos, como alguns outros seres humanos, como nenhum outro ser humano”. Em seguida falou sobre como percebemos a diversidade cultural e sua relação com a globalização hoje, vivida por nós de forma simultânea. Apesar de ser complexa a definição da diversidade cultural, vislumbra uma alternativa, que é a de tratarmos o conceito como uma práxis social, entendendo-a ainda como uma categoria. Esse contexto não exclui a questão da ambigüidade presente em sua conceituação e em suas dinâmicas de funcionamento.Oriundo do latim "divertere" (o diverso), têm o sentido direto de tomar uma direção diferente, soltar-se, separar-se, afastar-se. A questão da diversidade diz respeito ainda à construção de “Identidades Coletivas”, sejam nacionais, sexuais, étnicas ou regionais. Por causa dessas identidades, entende que as culturas se tornam campos de batalhas, de um particularismo militante, como na Alemanha neonazista ou na ação e ideário dos extremistas de direita no Brasil, que acreditam na desigualdade e não na diversidade. Ou seja, há um caráter mórbido na questão da “identidade coletiva”.O conceito de identidade é constituído pela diferença e o coletivo torna-se igualizado através da nomenclatura, os indivíduos se tornam categorizados como judeus, homossexuais, ciganos ou outras categorias. Disso surgem estratégias típicas e universais de uma redução de austeridade: egocentrismo, logocentrismo e etnocentrismo. A práxis da diversidade cultural pode aparecer então como mediação do universal e do individual, enfocada não na definição da identidade de um grupo ou de um coletivo, nem na particularidade de um sexo, uma raça, uma etnia, mas, ao contrário, através do indivíduo, sempre diretamente ligado ao universal, em relação ao que disse ainda. “No puro individual, local aparece algo profundamente universal e pude perceber nas discussões aqui na TEIA, vocês estão na práxis social”, observou Fichtner.Práticas culturaisO professor fez também parênteses sobre a filosofia e a arte. Teorias e também obras de arte não se referem a uma realidade empírica, mas absoluta e precisamente a uma realidade ideal de representações modeladoras. No olhar da teoria e no olhar de arte, a realidade nunca é compreendida, ao contrário, ela é indeterminada, aberta. Neste olhar, não sabemos o que é 'uma criança', 'um adolescente' ou o que é 'ensinar e aprender'”, disse. Sobre o papel da arte neste meio, o professor colocou que sua lógica é a de uma mediação direta entre o universal e o individual, pois cria o individual na forma da sua universalidade e faz da contingência do individual uma necessidade do universal. Atua ainda no sentido de transformar a dependência em liberdade, expressando as formas e práticas imateriais das diversidades culturais e dando destaque à relevância e importância do corpo humano.Neste sentido, defende que as práticas culturais também têm seu caráter, em especial as ritualísticas, pois nelas estão presentes o mimético (a transferência através da cultura) e a aprendizagem mimética, através das práticas artísticas cênicas que realizam uma representação do social ou que emergem do social. Isso se revela em questões práticas, na própria Mostra Arte Viva e nas diversas manifestações artísticas e ritualísticas que ocorreram na TEIA. Sobre estes espaços, Fichtner explicou que viu vários exemplos de corpo, vários conhecimentos práticos do corpo nas apresentações. Essas práticas trazem as “performances da linguagem”, e são para ele janelas para uma comunidade entender a práxis e sua dinâmica. AprendizagemEm sua palestra, o professor fez menção a duas culturas de aprendizado de crianças aplicadas: o modelo de ensino primário no projeto do professor Falko Peschel, tratando de um projeto concreto, de quatro anos numa escola elementar, em que Peschel deixou nas mãos dos alunos - da primeira a quarta série - a organização do processo de ensino-aprendizagem. Todos foram alfabetizados num processo de aprendizado e ensino conjunto e concomitante, semelhante à didática da Escola da Ponte. Os resultados, numa avaliação padrão, foram 30% superiores à média nacional. “E o mais importante foi que todas as crianças entraram no ensino secundário (correspondendo à segunda etapa do ensino básico no Brasil) com uma bagagem de segurança e auto-estima não contabilizada na avaliação externa”, completou o conferencista.O segundo modelo de aprendizado mencionado diz respeito à dinâmica do povo indígena enawenê nawê, que habita uma única aldeia, no noroeste do Mato Grosso. Os enawenê nawê não foram vítimas das tradicionais epidemias que, na maioria das vezes, assolam os grupos indígenas logo após o contato com os brancos e produzem efeitos deletérios. Ao contrário, houve crescimento demográfico e mantiveram intacto seu modo de vida tradicional e seus belos rituais. Nesta cultura, explicou Fichtner, os universos infantis e adultos são bem demarcados, nenhuma criança brinca de faz-de-conta das funções sociais dentro da aldeia, como fazemos nós brancos das escolas tradicionais nos jogos teatrais, e atuam com grande proximidade com o aprendizado mimético.* Colaborou Guilherme Jeronymo
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
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