sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

ARTE-EDUCAÇÃO - Por um ensino de artes

16/10/2007 Elisangela Oliveira - 100canaisA 2ª Semana de Arte-Educação da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP começou no último sábado (dia 6 de outubro), com o tema central “o papel do arte-educador na sociedade”, em aula aberta no grande auditório do MASP. Organizada por um grupo de estudantes da licenciatura em artes plásticas e unidos em um grupo de estudos sobre arte-educação, começou com a palestra da professora Ana Mae Barbosa, uma das principais referências para a área no país, discutindo os pontos de encontro entre os vários desmembramentos da arte-educação na formação educacional do Brasil hoje.
Em breve entrevista, o aluno Guilherme Leite Cunha, um dos organizadores do evento, frisou a importância do tema, relegado para um segundo plano nos ambientes acadêmicos e por este motivo sem eventos que o discutam de maneira ampla e que possibilite mudanças substanciais. Paulo Portella Filho, coordenador do serviço educativo do museu, contou a esta reportagem que a articulação para que a Semana tivesse palestras fora da ECA surgiu do contato com uma das estudantes, envolvida na preparação da atividade, e que se mostrara positivo em vista do auditório lotado. Portella havia participado de uma das mesas na Semana de 2006, e chamou atenção ainda para a necessidade da relação entre os estudos da Academia e o dia a dia dos professores, preocupação esta que diz presentes nas atividades de ensino desenvolvidas pelo MASP.
Em sua explanação, com o objetivo de historicizar o evento, Mae fez referência ao movimento que surgiu com os professores e estudantes da ECA no ano de 1980, reunindo aproximadamente 3000 pessoas e batizado de 1ª Semana de Arte e Ensino, dizendo sentir-se muito feliz por ver hoje evento semelhante sendo organizado e realizado pelos estudantes. Do início dos anos 80 para cá, a situação mudou, e muito. À época, o governador, nomeado, era Paulo Maluf, e sua proposta de arte-educação envolvia um coral com crianças de todas as escolas se apresentando em um recital no Pacaembu, acompanhado dele mesmo ao piano, entre outras situações e conjunturas deveras pitorescas.
A arte-educação não era então mais do que um núcleo de educadores na ECA-USP, e por isso mesmo o momento foi tão significativo para a formação desta disciplina/especialização. Hoje já existem cursos, presenciais e à distância, além de especializações na área, e estudos em outras universidades nacionais – a própria Ana Mae leciona na Universidade Anhembi-morumbi, em São Paulo – além de haverem associações estaduais e uma federação de arte-educadores.
Quanto à política, suas peculiaridades são hoje outras, inclusive no campo cultural, mas não será este o foco desta breve reportagem (Leia mais aqui). Mae citou em sua fala também a importância de reunir os educadores para discutir quem são e qual seu papel na sociedade, e na necessidade da interlocução entre o erudito e o popular, dando visibilidade a todas as produções culturais de todas as classes sociais. Diz-se, por sua vez, flexível a leituras das pluralidades culturais devido a sua experiência vivida nas cidades do Rio de Janeiro, Recife, Brasília e São Paulo.
Por professores pesquisadores
A importância do professor pesquisador também foi um dos focos da palestra. O cerne da crítica e explanação de Mae é que o professor deve fazer da pesquisa um princípio educativo, aliando a esta a criatividade e a criticidade, visando atingir no educando a autonomia intelectual. Na visão proposta, triangular (ler, contextualizar e fazer) é preciso construir um vínculo real entre a arte e o processo educacional, que teria início com a tríade: educação do olhar para a fruição da arte, formação a partir da aquisição de conhecimento, e reflexão sobre o papel da arte e da cultura como um todo.
Sobre esta necessidade, foi comentado ainda o princípio de que ao colocarmos a pesquisa como condição (responsabilidade) indispensável da prática docente, a conseqüência decorrente é que a pesquisa, tanto para o docente quanto para o discente, torna-se um princípio educativo referencial, uma vez que o professor não educa apenas através de palavras, mas também pela postura revelada em suas atitudes ou no conjunto de suas ações, coerência esta que repercutirá nos alunos. À medida que o professor insere estas marcas no seu trabalho, ele abre possibilidades significativas para a superação de práticas alienadas e alienantes como a pura cópia, a imitação cega e submissa, enfim, a reles reprodução. Isso significa que o trabalho docente em sala de aula deve ser realizado de tal modo que o questionamento, a dúvida e a incerteza devem ser não só aceitos, como também fomentados. Uma das formas de aplicar estes conceitos, sugerida e amplamente defendida pela palestrante, foi a educação à distância.
Mae colocou ainda a importância do professor fomentar a educação através do ver e fazer presentes na criação, estabelecendo significados para produções em diversos códigos, a seu ver questão essencial para garantir a multiplicidade e diversidade culturais. Nesse sentido, criticou ainda o atual modelo do direito autoral – em que o empresário, intermediário que não agrega valor, está preocupado com a pirataria, mas não com a melhoria do acesso aos bens culturais, ao que comentou: “eu quero ver é conhecimento sendo transmitido, e nesse sentido eu apoio o pensamento e a posição de Gilberto Gil”.
Educação Artística x Artes
Outro tema pontuado por Mae é a questão da forma como é entendida a educação para e pelas artes no espaço escolar. Além de criticar em parte os PCNs, fez dura crítica ao termo Educação Artística, responsável por designar a disciplina de ensino das artes até o começo da década.
A questão de fundo implícita na crítica da professora aponta para os Parâmetros Curriculares Nacionais a questão de ter sido elaborado por acadêmicos espanhóis, franceses, não sendo implementada uma política de educação partindo dos professores e sim de um modelo europocêntrico. Porem não considera a história da educação do Brasil que desde de 1500, temos grande influência do modelo europeu.
Mae ressaltou também a questão do ensino-aprendizagem, não se pode esquecer que é no início da década de 70 que a disciplina de Educação Artística tornou-se obrigatória, a partir da Lei de Diretrizes e Bases 5692/71, que centra o ensino da arte em técnicas e habilidades. A nominação atual para a disciplina nas escolas foi conquista recente, mudada em 2005 pelo Conselho Nacional de Educação, de acordo com MAE.
Política partidária X política de Estado
Numa palestra tão caracterizada por seu lado propositivo e militante, é importante frisar que uma política pública de formação de professores é ausente, porém já é garantida na Lei de Diretrizes e Bases n.º 9.394/96 (LDB 9394/96) em seu artigo 67 que garante ao professor a valorização. Na visão de Mae, a melhor forma de suprir essa necessidade seria através da educação à distância, apontada por ela como a alternativa mais viável e eficiente para promover a capacitação de arte-educadores e profissionais da educação em geral.
A LDB 9394/96 valoriza a qualificação dos profissionais da educação e, inclusive, estabelece um prazo — 2006 —, a partir do qual só poderão ser admitidos professores formados em nível superior. Além disso, no artigo 87, reforça a necessidade de elevar o nível de formação dos profissionais, determinando que "cada Município e, supletivamente, o Estado e a União, deverá (...) realizar programas de capacitação para todos os professores em exercício, utilizando também, para isto, os recursos da educação à distância". A professora não colocou, entretanto, justificativas, além da permeabilidade do meio, para o uso desta tecnologia, pondo-a em pé de igualdade com a formação presencial de nível superior e técnico.
Em entrevista, a palestrante fez elogios ainda aos Pontos de Cultura como política pública de educação, e criticou a falta de uma Política de Estado contínua na área, a seu ver inexistente, o que relega este e os demais setores estratégicos a gestões descontinuadas, de governos e de personalidades públicas. Autonomia nestas políticas então é algo que, para Mae, está muito longe da realidade política do Brasil hoje.
Outras visões sobre esta palestra e as demais que compuseram a semana de arte-educação no blog semanadearteeducacao.blogspot.comconteúdo compartilhado em 100canais.org.br

Um Seminário de diversidades

14/11/2007 Elisangela Oliveira*, para o 100 CanaisSeminário Internacional Saberes Vivos, realizado entre 8 e 10 de novembro em Belo Horizonte e complementar às discussões e apresentações que compuseram, junto com este espaço, a Teia 2007: Tudo de Todos, discutiu modelos educacionais, a conjuntura da Educação no país hoje, o que é e como funcionam as dinâmicas da Cultura e novas perspectivas para a Educação na diversidade cultural.
Construído a partir de um modelo de conferências, três ao todo, uma a cada dia, com participação de Ariano Suassuna, José Pacheco e Berndt Fichtner, e de três séries de mesas de discussão, distribuídas nas tardes dos três dias do Seminário, o encontro se construiu a partir de uma visão humanística da Educação, privilegiando pesquisadores e professores com esta visão e favoráveis, ou ao menos contidos em suas críticas, em relação aos programas do Ministério da Cultura.
As discussões estiveram voltadas para a questão do desenvolvimento doindivíduo dentro do processo educacional, como na educação libertária propagada por José Pacheco, vinda da Escola da Ponte, em Portugal, do que para o caráter grupal da educação, embora abraçando uma idéia de coletividade para a finalidade da Educação e do processo educativo.
A questão da coletividade, por sua vez, diz respeito principalmente à visão da importância da valorização da cultura e da diversidade cultural, praticamente consenso nas mesas, assim como à visão de que destes pontos depende tanto a vitalidade do programa Cultura Viva quanto a revitalização da instituição escolar.
Na conferência de abertura, um vivíssimo e efusivo Ariano Suassuna, de uma animação que beira o ufanismo quanto às possibilidades e potenciais do povo brasileiro, louvou a criatividade e riqueza oriundos de nossa mistura única, representada em diversidade cultural ímpare em potencial criativo ainda desconhecido, embora também fator criador do nosso “jeitinho”.
Pacheco, ao construir sua conferência a partir das dúvidas e questões da platéia, apresentou as bases da Educação Libertária da Escola da Ponte, e frisou a importância da participação dos pais na gestão e apoio à escola, assim como de uma melhor preparação dos profissionais que atuam na área, hoje alienados do significado real do processo educacional, e por isso fadados a repetirem aos educandos de hoje a educação que tiveram a 10, 20, 30ou 40 anos.
Fichtner, na última conferência do encontro, discutiu a conceituação de Cultura e de Diversidade Cultural, apresentando também suas experiências com uma educação libertária e o que percebeu do processo educacional dos índios brasileiros.
Em uma das últimas mesas, a do debate “Cultura e Educação no enfrentamento das desigualdades”, uma fala da professora Maria Helena, da Faculdade de Educação da UFMG e participantedo Ponto de Cultura desta mesma faculdade, fez a ponte entre a teoria e a prática para os pontos: “a responsabilidade das Políticas Públicas também é dos Pontos deCultura, e para que propostas boas não fiquem nas planilhas e projetos, precisamos, como Ponto, saber o que queremos”.
A atenção à educação, por sua vez, não ficou restrita ao seminário. Alternativas à educação formal e metodologias de educação oral foram discutidasnos eventos da ação Escola Viva e da Ação Griô nacional, que tiveram, especialmente a última,grande participação em todo o encontro.
*Mais detalhes, inclusive a cobertura completa das conferências, em http://www.teia2007.com.br/noticias/6481428.
*Colaborou Guilherme Jeronymo

A arte educação em um contexto étnico

A arte educação em um contexto étnico20/11/2007 Elisangela Oliveira, para o 100 CanaisAinda nos primeiros dias de outubro deste ano, em 10/10, durante a II Semana de arte educação da ECA USP, coberta pelo Cultura e Mercado (http://www.semanadearteeducacao.blogspot.com/), deu-se o debate “A influência afro-brasileira na arte-educação do Brasil”, destinado a discutir “As presenças e ausências da cultura afro-brasileira na construção do ensino da arte”. A discussão se deu com a apresentação de três convidadas, as professoras Dilma de Melo Silva, da ECA USP e presidente da Sociedade Científica de Estudos da Arte, Lisy Salum, do MAE USP, e Renata Felinto, arte-educadora do Museu Afro Brasil, também de São Paulo.
Iniciando o seminário, Dilma chamou atenção para o longo período de ausência de cadeiras, na Universidade de São Paulo que discutissem o papel africano na formação de nossa Cultura e de nossa arte, mas que resultaram em algumas matérias e em um grupo de pesquisas sobre o tema, que conta com a participação dela, responsável ainda por duas disciplinas que discutem a temática, contextualizada junto às outras Culturas que formaram a Cultura brasileira. O resultado se deu com a pressão dos alunos, via Pró-reitoria de graduação, e significa um dos primeiros passos para a efetivação, na Universidade, da Lei 10639/03, que prevê a introdução à História e Cultura Afro-Brasileira no ensino básico.
Silva criticou ainda a forma como a 10639/03 se constituiu – através de uma alteração à Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), em seu artigo 26 A – mas a colocou como positiva, por permitir uma abordagem mínima do tema, de forma transversal, e não somente através da questão do tráfico negreiro, da guerra e da fome, nas aulas de Geografia e História. Uma das propostas dessa abordagem, na Universidade, vêm a partir da questão da(s) linguagem(ns), a partir de uma proposta da própria ECA/CCA. Nesse contexto, a intelectual considera fundamental a participação da matriz africana na Cultura Brasileira não ser entendida como simples participação, mas como contribuição central, formadora mesmo.
Em sua explanação, considera ainda importante a atuação hoje do MEC, que após quatro anos da Lei começa a se debruçar sobre o vácuo deixado para sua regulamentação, e para a necessidade de considerar neste ensejo outras etnias ainda.
A professora Salum, responsável por uma disciplina sobre o tema no MAE USP, chamou atenção em sua participação para a questão da invisibilidade da arte africana em contraste com sua importância na história da Arte como um todo, e deu diversos exemplos de como se deu sua exploração, ligada sempre à etnografia e desconsiderando preceitos religiosos e existenciais, centrais para sua compreensão, assim como ignorando sua riqueza técnica, em alguns casos claramente superior à Arte européia ou asiática.
Neste contexto, chamou atenção ainda para a necessidade de mudar os modelos de passagem e compreensão do conhecimento, europeus, para permitir padrões outros, considerando no ensino nossa forte precedência ontológica negra e indígena, que nos levam a entender e intuir diversas instituições e modos de ser africanos, em relação aos quais os europeus têm preconceitos. A Lei têm importante papel neste sentido. Colocou ainda que há, hoje, poucas coleções de arte africana no país, em especial a coleção do museu Goethe (Belém, PA) e do Museu Federal (Rio de Janeiro, RJ), com valor documental e íntegras. Comentou ainda, em relação ao processo civilizatório/exploratório imposto ao continente pela Europa, que “O fato colonial foi extorsivo e provocou uma série de mudanças na África, e a adulteração de um conjunto original que se pretendia desenvolver”.
Abordando o tema sob a ótica da arte-educação, Felinto apropriou-se do espaço, dando uma aula muito positiva sobre a questão da Educação a partir da Arte e Cultura africanas, tomando como base o próprio Museu Afro Brasil. Concentrou sua apresentação a partir da questão das ausências e presenças artísticas negras no espaço educacional brasileiro hoje. Citou a necessidade de incluirmos diversos artistas nestas discussões, citando-os e debatendo-os resumidamente (o que não faremos neste espaço, por não ser o melhor meio para tal). Discutiu, porém e principalmente, a questão do ser uma arte afro-brasileira ou não. A terminologia, hoje, aborda questões muito díspares, e por isso se mostra por demais abrangente, compreendendo artistas muito diferentes entre si, ao que afirmou ser “um termo que temos de pensar sobre, e envolve também a questão das ações afirmativas e da discussão de uma metodologia do ensino das questões africanas”.
A partir desta discussão, Felinto colocou como primordial entender: O que é a arte afro-brasileira; O que ensinaremos aos nossos alunos como produção afro-brasileira; Como conceituar esta arte, e classificar estes artistas – se a partir do critério da descendência, ou considerando também a questão temática/cultura de sua produção. A partir disso, colocou a educadora, podemos pensar a questão da Educação e a apresentação, neste espaço, da história e da arte africana e afro-brasileira. Salum comentou ainda, quanto a este ponto, que o que interessa não é a cor da pele, mas a cultura, o modo dever e entender o mundo, questão controvertida porque você simplesmente separa-a do restante. Neste sentido, citou ainda o trabalho de Manoel Carneiro da Cunha, como o melhor já feito sobre o tema, o qual se centra na conceituação da arteafro-brasileira, na questão religiosa. A questão principal, concluiu Salum, é a multidimensão da arte, relacionada à multiplicidade de cores e fatores, e do uso de cores determinadas e principalmente do modo de ser e estar da África, ao que disse ser “uma coisa de saber o que está dentro da gente”.
Ampliando o debate, com a participação da platéia, comentou-se ainda que a falta de material didático para professores de arte é real e factual, e Silva colocou que sua produção cabe aos professores e doutores da Universidade. Salum reforçou a questão, dizendo ser indispensável a produção de materiais e o entendimento das dificuldades dos educadores na rede, papel já iniciado na internet, em sites como o do MAE.
Praticamente encerrando o debate, Silva colocou a questão levantada pelo artista Rojé Nastide. O mesmo declarou, categoricamente, que africanus sum. Apesar disso, era loiro de olhos azuis, e aceitou portanto a identidade por adoção

PAC - Mais Cultura é apresentado na Assembléia Legislativa de São Paulo

PAC - Mais Cultura é apresentado na Assembléia Legislativa de São Paulo08/12/2007 Elisangela Oliveira - rede 100canaisO secretário-executivo do Ministério da Cultura, Juca Ferreira, fez a apresentação do Programa Mais Cultura, representando o ministro Gilberto Gil, em 3 de dezembro último, no Auditório Franco Montoro da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP), durante a reunião da Comissão de Cultura, Ciência e Tecnologia da Assembléia. O Programa foi lançado em outubro pela Presidência e pelo ministro Gilberto Gil, e está sendo apresentado aos estados brasileiros, em alguns deles já firmando convênios e iniciando seus objetivos estratégicos. O convênio com São Paulo ainda não foi firmado, por questões de ordem burocrática.A mesa, presidida pela deputada Célia Leão, contou também com a participação de representantes do MinC, entre os quais a representante da pasta em São Paulo, Cecília Garçoni, do secretário do Áudio-Visual, Sílvio Da Rin, do secretário de Programas e Projetos Culturais, Célio Turino, do secretário da Identidade e da Diversidade Cultural, Sérgio Mamberti, e do presidente da Fundação Nacional de Arte (Funarte), Celso Frateschi. Contou ainda com participação do secretário de Estado de Cultura, João Sayad, e do Secretário Municipal de Cultura de São Paulo, José Augusto Kalil. Participaram ainda os deputados que compõe a Comissão. De acordo com Leão, o evento representou uma parceria entre o MinC e o executivo e o legislativo paulistas para a construção do debate acerca das políticas públicas de Cultura com a sociedade civil. Na platéia, muitos representantes de Pontos de Cultura do estado.Em sua fala, Juca Ferreira mostrou metas, diretrizes de ação e dados base através da apresentação em Power Point, a qual está disponível em http://www.cultura.gov.br/site/?p=1780 . O Programa integra a Agenda Social do Governo Federal e prevê investimentos de R$ 4,7 bilhões até 2010, ampliando os paradigmas da gestão Gil, adotados nos Pontos de Cultura, hoje 630, mas que têm como meta alcançar 20 mil instalações. Com o Programa os Pontos deverão se desdobrar em Pontos de Difusão (cineclubes), Pontos de Leitura e Pontos de Memória, embora não esteja claro como Pontos que atuam com mais de uma ou com variações destas áreas, como manifestações culturais locais, serão classificados. A ampliação se dará também através de convênios com outros dez ministérios, além de estados e municípios.Segundo o secretário, o Programa pretende zerar o número de municípios sem bibliotecas públicas e ampliar o número de bibliotecas em áreas socialmente vulneráveis, pensadas como espaços multiuso, abarcando outras linguagens além da escrita. Também foram destacadas a previsão de capacitação de gestores culturais; a formação de mão-de-obra especializada; o fomento a micro-projetos culturais; o apoio à edição de publicações e livros a preços populares, acompanhado de uma severa crítica ao setor, fomentado desde o começo da gestão Lula; e a implantação de espaços culturais comunitários e multifuncionais. Em sua explanação, Ferreira colocou ainda que o MinC passará a considerar a Cultura em pelo menos três dimensões: em seu papel como fato simbólico; em seu caráter enquanto direito de cidadania, entendida como um direito que deve ser atendido a partir da junção entre políticas universais e políticas focais; e em sua dimensão enquanto campo econômico, aos poucos entendida como fator central à sociedade e determinante da economia, em parte por ser muito maior que a Indústria Cultural em si, especialmente no tocante às suas relações com a economia solidária, e necessitando de esforços para diminuir seu caráter informal. Concluindo, afirmou que o Programa vêm ampliar a ação do Ministério da Cultura, dando a ele uma escala até então não atingida. Em parte por isso, trata-se de um Programa de Estado, não apenas do MinC ou da gestão Lula. Pontuou, ainda, o fato de não se estar assinando o convênio com São Paulo hoje, como estava previsto, enquanto outros estados já realizaram o procedimento.O secretário João Sayad, em sua fala, ressaltou a parceria entre união e estado nos Pontos de Cultura, e colocou que a pendência em relação ao convênio é devida a obstáculos burocráticos. Pontuando algumas questões, colocou que considera importantes os dados que referem à ausência da população nos espaços culturais, mas que a questão a ser pontuada hoje é a de dois opostos, que exemplificou com exemplos paulistas: de um lado, comunidades praticamente isoladas da produção da Indústria Cultural, mas que produzem cultura em diversas formas, como dança, teatro e manifestações religiosas populares, como é o caso de Capuçava, município próximo à São Luiz de Paraitinga; do outro, comunidades pobres nas periferias de São Paulo, que têm em suas casas Tvs e DVDs e consomem filmes e Cds piratas, cantando e consumindo uma Cultura que não entendem, e que estão numa situação em que não têm expressão, embora contando com um elevado consumo cultural. O desafio é encontrar o equilíbrio entre estes dois mundos, sem a sobreposição de um pelo outro, concluiu.Os demais presentes fizeram falas curtas, pontuais sobre a atuação que têm realizado até o momento, refletindo uma posição autocrítica de Juca Ferreira, que disse estar ainda o Programa em fase de planejamento.Foram destacadas ainda a proximidade de uma segunda leva de dados das pesquisas sobre consumo e produção cultura do Brasil, que deverão ser divulgadas em breve, e o apoio dos parceiros – em especial as estatais, e os bancos estatais – citados mais de uma vez, tanto no tocante aos recursos alocados a fundo perdido quanto através de mecanismos de empréstimo, como o microcrédito.

Pedagogo alemão apresenta a Educação que respeita a diversidade

Pedagogo alemão apresenta a Educação que respeita a diversidade
Especialista na pedagogia do educador Vygotsky, Bernd Fichtner proferiu a conferência “Antinomias da Diversidade Cultural: Problemas e Perspectivas”, na TEIA 2007.
Elisangela Oliveira* - Especial para o 100canais
Elisangela Oliveira
O professor alemão Bernd Fichtner disse que vê no Brasil experiências disseminadas de diversidade cultural que podem ser úteis ao modelo educacional da Europa. Especialista na pedagogia do educador Vygotsky, Fichtner proferiu na manhã de sábado (10), na TEIA 2007, a conferência “Antinomias da Diversidade Cultural: Problemas e Perspectivas”. Professor da Universidade de Siegen, ele é integrante da organização do Fórum Social Mundial e representante do Fórum Mundial de Educação na Alemanha.Bernd Fichtner centrou sua fala em questões que classificou de "práxis cultural". O acadêmico iniciou a preleção apontando que a Europa e a Alemanha, em especial, "precisavam urgentemente" conhecer as experiências brasileiras nas suas diversidades culturais, no campo da educação. "Cada ser humano é, em certos aspectos, como todos os outros seres humanos, como alguns outros seres humanos, como nenhum outro ser humano”. Em seguida falou sobre como percebemos a diversidade cultural e sua relação com a globalização hoje, vivida por nós de forma simultânea. Apesar de ser complexa a definição da diversidade cultural, vislumbra uma alternativa, que é a de tratarmos o conceito como uma práxis social, entendendo-a ainda como uma categoria. Esse contexto não exclui a questão da ambigüidade presente em sua conceituação e em suas dinâmicas de funcionamento.Oriundo do latim "divertere" (o diverso), têm o sentido direto de tomar uma direção diferente, soltar-se, separar-se, afastar-se. A questão da diversidade diz respeito ainda à construção de “Identidades Coletivas”, sejam nacionais, sexuais, étnicas ou regionais. Por causa dessas identidades, entende que as culturas se tornam campos de batalhas, de um particularismo militante, como na Alemanha neonazista ou na ação e ideário dos extremistas de direita no Brasil, que acreditam na desigualdade e não na diversidade. Ou seja, há um caráter mórbido na questão da “identidade coletiva”.O conceito de identidade é constituído pela diferença e o coletivo torna-se igualizado através da nomenclatura, os indivíduos se tornam categorizados como judeus, homossexuais, ciganos ou outras categorias. Disso surgem estratégias típicas e universais de uma redução de austeridade: egocentrismo, logocentrismo e etnocentrismo. A práxis da diversidade cultural pode aparecer então como mediação do universal e do individual, enfocada não na definição da identidade de um grupo ou de um coletivo, nem na particularidade de um sexo, uma raça, uma etnia, mas, ao contrário, através do indivíduo, sempre diretamente ligado ao universal, em relação ao que disse ainda. “No puro individual, local aparece algo profundamente universal e pude perceber nas discussões aqui na TEIA, vocês estão na práxis social”, observou Fichtner.Práticas culturaisO professor fez também parênteses sobre a filosofia e a arte. Teorias e também obras de arte não se referem a uma realidade empírica, mas absoluta e precisamente a uma realidade ideal de representações modeladoras. No olhar da teoria e no olhar de arte, a realidade nunca é compreendida, ao contrário, ela é indeterminada, aberta. Neste olhar, não sabemos o que é 'uma criança', 'um adolescente' ou o que é 'ensinar e aprender'”, disse. Sobre o papel da arte neste meio, o professor colocou que sua lógica é a de uma mediação direta entre o universal e o individual, pois cria o individual na forma da sua universalidade e faz da contingência do individual uma necessidade do universal. Atua ainda no sentido de transformar a dependência em liberdade, expressando as formas e práticas imateriais das diversidades culturais e dando destaque à relevância e importância do corpo humano.Neste sentido, defende que as práticas culturais também têm seu caráter, em especial as ritualísticas, pois nelas estão presentes o mimético (a transferência através da cultura) e a aprendizagem mimética, através das práticas artísticas cênicas que realizam uma representação do social ou que emergem do social. Isso se revela em questões práticas, na própria Mostra Arte Viva e nas diversas manifestações artísticas e ritualísticas que ocorreram na TEIA. Sobre estes espaços, Fichtner explicou que viu vários exemplos de corpo, vários conhecimentos práticos do corpo nas apresentações. Essas práticas trazem as “performances da linguagem”, e são para ele janelas para uma comunidade entender a práxis e sua dinâmica. AprendizagemEm sua palestra, o professor fez menção a duas culturas de aprendizado de crianças aplicadas: o modelo de ensino primário no projeto do professor Falko Peschel, tratando de um projeto concreto, de quatro anos numa escola elementar, em que Peschel deixou nas mãos dos alunos - da primeira a quarta série - a organização do processo de ensino-aprendizagem. Todos foram alfabetizados num processo de aprendizado e ensino conjunto e concomitante, semelhante à didática da Escola da Ponte. Os resultados, numa avaliação padrão, foram 30% superiores à média nacional. “E o mais importante foi que todas as crianças entraram no ensino secundário (correspondendo à segunda etapa do ensino básico no Brasil) com uma bagagem de segurança e auto-estima não contabilizada na avaliação externa”, completou o conferencista.O segundo modelo de aprendizado mencionado diz respeito à dinâmica do povo indígena enawenê nawê, que habita uma única aldeia, no noroeste do Mato Grosso. Os enawenê nawê não foram vítimas das tradicionais epidemias que, na maioria das vezes, assolam os grupos indígenas logo após o contato com os brancos e produzem efeitos deletérios. Ao contrário, houve crescimento demográfico e mantiveram intacto seu modo de vida tradicional e seus belos rituais. Nesta cultura, explicou Fichtner, os universos infantis e adultos são bem demarcados, nenhuma criança brinca de faz-de-conta das funções sociais dentro da aldeia, como fazemos nós brancos das escolas tradicionais nos jogos teatrais, e atuam com grande proximidade com o aprendizado mimético.* Colaborou Guilherme Jeronymo

Cultura e Educação

Seminário Saberes Vivos destrincha vínculo entre Cultura e Educação
Debate sobre o tema contou com a participação de Ana Maria Gomes, da UFMG, Maria Benites, da Universidade de Siegen (Alemanha), Alcione Araújo, dramaturgo e filósofo, e da mediadora Marcela Bertelli.
Elisangela Cardoso* – Especial para o 100canais
A relação entre Cultura e Educação foi o tema da mesa “Conceitos, tendências e olhares contemporâneos sobre cultura e educação”, no Seminário Saberes Vivos da TEIA 2007. O debate contou com a participação de Ana Maria Gomes, professora da UFMG, Maria Benites, professora da área de Educação na Universidade de Siegen (Alemanha), de Alcione Araújo, dramaturgo e filósofo, e da mediadora Marcela Bertelli.Abrindo as falas, Ana Gomes fez uma breve apresentação, intitulada “Cultura, prática social e aprendizagem”, onde abordou o Conhecimento uma das formas de mediar a Cultura, e esta como um Conhecimento a ser revisado. A professora chamou atenção para as diferentes concepções de cultura que já existiram: aquela da Cultura como conhecimento e formação (ilustração); a de Cultura como “traços culturais”; a da Cultura como conjunto de normas e modelos de comportamento ou padrões de comportamento culturais, tolhendo os esforços de criatividade, liberdade, esforço e inovação, utilizada pelos críticos marxistas; e a concepção de que a Cultura atua como sistema simbólico, colocando como centrais a produção e circulação de significados como constitutiva da vida social e admitindo “a ação humana como uma ação que significa” e a linguagem como cultura.Ana chamou atenção ainda para as duas dimensões a serem explorados quanto ao tema da Cultura e da Educação: a aprendizagem como prática social culturalmente situada; e a cultura como habilidade. Contando ainda sobre uma breve discussão que teve com uma professora inglesa, diz-se surpresa pelo questionamento da colega: “Ela me perguntou por que não cuidamos de nossa cultura pondo-a em museus. Eu pensei: isso não pode ser feito, nossa cultura não cabe nos museus”. Respondendo a um questionamento da platéia, Ana fez ainda duras críticas à privatização da educação e ao desmonte da educação pública, posto que é hoje um dos poucos espaços em que se faz pesquisa no país. A pensadora Maria Benites, por sua vez, centrou sua apresentação na questão educacional, a partir do questionamento de se a Cultura será o novo espaço de formação. Falou ainda da inseparabilidade entre Educação e Cultura, hoje no Brasil quase que ignorada no tocante às políticas públicas, e comentou a fragmentação da Educação, com uma estrutura que não faz jus ao contexto atual e às necessidades da sociedade, necessárias para garantir a diversidade e liberdade. Entendeu ainda que tanto a Cultura quanto a Educação estão com problemas, e hoje o panorama de sua interação é no mínimo contraditório.Alcione Araújo iniciou sua fala com um olhar sobre a formação de nossa Cultura e o consumo cultural do brasileiro, chamando atenção para o fato de que pouquíssimos brasileiros participam da vida cultural do país, em parte por causa do analfabetismo funcional. Colocou ainda que entende como inimaginável a separação entre Educação e a Cultura, e responsabilizou por isso, em grande parte, a mudança da ênfase humanística para a tecnológica nos currículos escolares brasileiros, retirando deles, em especial na formação superior nas ciências biológicas e exatas, as “disciplinas do sentir e do pensar”. Não por acaso, disse, a indústria de entretenimento ganhou força no país no momento desta mudança, tornando irrelevantes as conquistas e o ritmo de avanço que vinham ocorrendo com o Cinema Novo, com o Teatro Moderno e com a Bossa Nova, embora sem afetar a Cultura do povo, que em grande parte continua, fora dos centros urbanos, como a cultura popular e tradicional, ao passo que o aniquilamento da vida social resultante do trabalho impede a fruição da vida cultural e afetiva, perdida nas horas de trabalho, transporte e sobrevivência. Encerrando o debate, algumas falas da platéia apresentaram experiências de educação não formal, comentadas pelos palestrantes como formas de interação entre Cultura e Educação, numa espécie de prévia da entrega, poucas horas depois, do Prêmio Escola Viva. *Colaborou Guilherme Jeronymo

Função libertadora da Cultura

Em debate na TEIA 2007, palestrantes fizeram uma análise crítica das atuais escolhas na área da Educação, ao participarem do seminário “Cultura e Educação no enfrentamento das desigualdades”.
Elisangela Cardoso* – Especial para o 100canais
Que Cultura e qual desigualdade? Essa questão deu a linha do debate “Cultura e Educação no enfrentamento das desigualdades”, realizado sábado (10), no Teatro Francisco Nunes, na TEIA 2007. Participaram Marta Porto, pesquisadora da X Brasil, que se classifica como a primeira agência de qualidade pública do país, e a professora Maria Helena, da Faculdade de Educação da UFMG e participante de Pontão de Cultura na própria universidade. A mediação do debate foi feita pelo jornalista Adauto Novaes, que abriu a mesa com a seguinte fala: “o Ocidente não vive uma crise, mas uma grande mutação, transformação, patrocinada pela mundialização em tecno-ciência. A nossa mutação fica no vazio do pensamento, impasse que estamos vivendo hoje”. Com essa crítica, chamou atenção para a contradição em se falar de Cultura e sua relação com a tecno-ciência, enquanto as ciências humanas não estão pensando as mutações culturais.Marta Porto levantou a questão do ponto de vista político, ao buscar o que é o gerador das desigualdades sociais. Nos espaços de discussão, disse, muito se fala de financiamento e gestão, mas pouco se utiliza a Cultura para discutir o cidadão na sociedade. Pensar a Cultura a partir da política, porém, requer repensar paradigmas e estereótipos. A pensadora questiona ainda se é possível pensar a sociedade sem pensar a cultura para transgredir, e se é possível a sustentação, na dimensão cultural, da transversalidade que conduz a liberdade.“O desenvolvimento”, disse Marta, “só é desenvolvimento quando conduz à liberdade” e permite “estabelecer outros tipos de direitos”. Neste sentido, Cultura é essa possibilidade que a sociedade desenvolve sobre o indivíduo. Não que a dimensão da Cultura seja a de fazer ajustes sociais, mas é a de dimensionar a qualidade e a experimentação. O papel da Cultura não deve ser, portanto, algo como reduzir a violência. Isso pode ser conseqüência, mas não paradigma. Ao pensar a Cultura sem levar isto em consideração, cai-se no jogo de estereótipos, não justificando o projeto cultural para a libertação do cidadão, e sim para a contrapartida social para os editais de financiamento.Maria Helena, por sua vez, trouxe em sua fala algumas questões teóricas sobre Educação e Cultura, partindo da tese de que muito se confundem os sentidos desses conceitos, inclusive na organização de políticas públicas. Em relação à Educação, a professora afirmou que é um espaço em que o posto é que uns sabem e outros não, há os iluminados e os sem luz, e o mercado fixa o valor do que é sabido. Neste contexto, é comum se contrapor Cultura Popular e Cultura Erudita, que permeiam os vieses formadores do campo da Educação: a formação formal e a informal, componentes que interligam os sentidos da Cultura e Educação como recurso para a promoção de desenvolvimento econômico e social.Nos tempos da sociedade da informação, disse a acadêmica, o que importa analisar são as redes sociais e suas implicações nessas novas formas de relação, na qual a Educação é o espaço de luta antagonista da Cultura. Neste contexto, entra a Globalização como imposição para a Cultura da diversidade e como sentimento potencial para se exercer a liberdade e a responsabilidade, para as quais é necessário o olhar multifacetado, capaz de romper com as desigualdades sociais.Debruçando-se ainda sobre o conceito de Diversidade Cultural, Maria Helena afirmou, fazendo eco à conferência do professor alemão Bernd Fichtner (www.teia2007.com.br/noticias/6669610), que a concepção de Diversidade Cultural antes era a de heterogeneidade, e hoje se considera a possibilidade a construção de identidades únicas e coletivas, posto que a noção de diferenciação entre espaço e tempo não é mais aplicável, e por isso temos de repensar nossas diferenças culturais. Neste sentido, várias proposições de relação vêm sendo feitas para manter essa comunicação intercultural, e é necessário democratizar um fluxo contínuo de Cultura, enfatizado no coletivo e como um lugar de inovação para as naturezas coletivas nos projetos culturais, política e cidadania.Após as intervenções da platéia, Maria Helena discutiu com os presentes a questão da educação pública, baseada no modelo educacional americano, voltado para o trabalho, como algo que não resolve os problemas enfrentados hoje na Educação. Assim, considera que a proposta da escola integral é uma armadilha em que o país está caindo, pois o que é “chato” está num turno e a proposta de cultura no contra-turno, muitas vezes em oficinas realizadas por pessoas não capacitadas. Hoje, disse a acadêmica, Educação não é entendida como um direito, mas como mérito, e esse é um grande erro. Encerrando sua fala, chamou atenção para o fato de que a responsabilidade das Políticas Públicas também é dos Pontos de Cultura, e para que propostas boas não fiquem nas planilhas e projetos, precisamos, como Ponto, saber o que queremos.*Colaborou Guilherme Jeronymo

terça-feira, 19 de junho de 2007

O comercial de celular e a comunicação na pós-modernidade


O comercial de celular e a comunicação na pós-modernidade (ou dos ring-tones no busão)



(Guilherme Jeronymo)


Cinco da tarde, dia quente, sentido centro bairro, rumo à Zona Sul da maior cidade do país. Mormaço, eu cansado, de pé. Para o horário não está muito lotado, o único erro é o fluxo de consciência - isso aconteceu a, bem, uns quatro meses atrás, mas a falta de um lap top já faz deste relato algo fora de seu tempo, como uma conversa por e-mail, e portanto é melhor ser honesto desde o começo.

Percebo o casal no meio de uma música. Olho. Jeito de perifa. Não me leve a mal, mas naquele ônibus, naquela hora, com aquele ar de cansados, de dia cheio, não tinha como não dizer que não moravam perto de mim. Não reconheci a música, nunca fui bom disso. O gene musical deve pular uma geração, ou ser recessivo. Ou então eu simplesmente não fui capaz de me esforçar para fazer aflorar o talento. Mas, daí a não perceber que era uma música, são outros 500.

Eu ouço a música, e vejo ele com o celular. Os dois juntinhos. E paro.

São oito da noite. Minha esposa e eu jantamos, sentados na cama, conversando e vendo novela. Começa o intervalo. Carros, bebida e celulares. No comercial de celulares me dou conta do que é o canal nestes brinquedinhos atualmente: acesso à Internet, jogos on-line, torpedos, planos de consumo, música e a capacidade de tirar fotos e gravar pequenos filmes. Hoje não é mais necessário estar em um lugar para receber – ou gerar – mídias.

O cara com o celular tinha bem uns oito anos a mais do que eu. Uma geração. Meu irmão tem cinco a menos, como os bixos da minha faculdade. Usam ferramentas de comunicação que a minha geração ainda não domina, ao menos não para o seu cotidiano. Há os que relatam que crianças de oito, nove anos, usam messenger, skipe e ferramentas semelhantes. Todas juntas. As gerações estão cada vez mais próximas, e com práticas e valores mais relacionados. O avanço tecnológico destruiu o que ele mesmo criou.

Há coisa de 200 anos atrás, o mundo começou a mudar. Há coisa de dois anos atrás, um computador capaz de usar banda-larga custava duas ou três vezes o que custa hoje.

Independente de bom ou ruim, ou até mesmo apesar de bom e ruim, o atual momento tecnológico extingue o abismo entre gerações. Eu uso o messenger como ferramenta de trabalho. Empresas já usam o skipe como alternativa para economizar em ligações. O xerox do meu bairro usa software livre. No raio de um quilômetro da minha casa há, que eu conheça, três lan-houses e dois pontos de acesso gratuito à Internet. Com banda larga. Nestes ambientes, a cada dia, o fluxo de informações acaba com uma série de verdades e preconceitos. Derruba fronteiras. E tudo isso era impensável há dez anos atrás.

Resta saber, ou assistir, como estas gerações sem geração, filhos da revolução digital, vão se portar. Como irão interagir com as dinâmicas econômicas e sociais que estão surgindo, e que determinam cada vez mais um ritmo efêmero à vida. É preciso atentar para como estas gerações formarão sua Ética, sua Política e suas crenças num mundo cada vez mais conturbado, mais radicalizado. Nesse mundo, precisamos ainda entender o que será feito das comunicações e dos espaços de informação. Das instituições e das cartilhas. Das relações de trabalho e pessoais.

Dica de site: Dê um google em overmundo. Torne-se mídia e espectador. Debata com, sei lá, Hermano Viana (aliás, trabalho interessante o dele e dos seus na GV do Rio, vale conferir).